quarta-feira, novembro 30, 2005

cordas e curvas


Porque te amo, coso a alma com cuidado nos trespasses de viés e fita, nos acetinados e arremates, bordando urdiduras onde poderia se ler teu nome do avesso. As sedas da vida se fazem no escuro. Guardo nos braços a memória do teu corpo e me refaço a cada dia um pouco mais pronta e mais inteira. Meu baú de guardados desde sempre tinha as tuas coisas. Espero vestida por tuas mãos o tempo de nos desnudarmos e nos vestirmos um do outro.
Ticcia (www.naodiscuto.com)

cordas e curvas 2


A nenhum outro lugar pertenço, em nenhum outro braço, a nenhum outro corpo. Estranharia todas as mãos que não as tuas, mesmo que em outras só te buscasse. Esculpi uma de mim pelos contornos que me deste e meus limites, minhas divisas, agora são todos com o teu território. Seria uma estrangeira em mim mesma se não pudesse fazer pra sempre do teu corpo o meu último refúgio e já não saberia andar para trás e refazer os dias sem a tua trilha, sem as estrelas que me puseste nos olhos, num outro tempo que não o tempo que fizemos nosso, tão maior, onde cabem nossos momentos esquecidos e as memórias do que ainda seremos.
Ticcia (www.naodiscuto.com)

segunda-feira, novembro 28, 2005

um corpo que desperta


Passos encaminham corpos
Até ao seu destino.
Adormecem, esquecem.
Um corpo desperta, escreve.
O destino materializa-se
E os passos cantam um corpo
Ao som de um sorriso cálido
De notas e notas repetidas.
À espera de alcançar a manhã

De um corpo que desperta.
Armindo Dias

eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia de siêncio e de luz...


Respira fundo e sabe que a sua presença é urgente. Deixa-se cair. lentamente. como num filme mudo, e como nos filmes mudos, tudo se passa lentamente e a boca emudece... a pouco e pouco a boca apercebe-se da imensidão de uma praia, a imensidão de uma voz que se movimenta circularmente, de um coração quente que aprendeu a realidade entre os pomares de frutos prometidos: o recomeço da nossa história em dias de silêncio e luz.
...

âmbar


TÁ TUDO ACESO EM MIM
TÁ TUDO ASSIM TÃO CLARO
TÁ TUDO BRILHANDO EM MIM
TUDO LIGADO
COMO SE EU FOSSE UM MORRO ILUMINADO
POR UM ÂMBAR ELÉTRICO
QUE VAZASSE NOS PRÉDIOSE BANHASSE A LAGOA ATÉ SÃO CONRADO
E GANHASSE AS CANOASAQUI DO OUTRO LADO
TUDO PLUGADOTUDO ME ARDENDO
TÁ TUDO ASSIM QUEIMANDO EM MIM
COMO SALVA DE FOGOS
DESDE QUE SIM EU VIM
MORAR NOS SEUS OLHOS
Adriana Calcanhoto

farol


...nos dias em que no mar habita visão de próxima estação
o horizonte povoa de razões complexas um coração
mergulho tudo penso em mim
como se fala de um país
que se deseja conhecer no futuro
Beto Carminatti

horizonte distante


agente quer ver...horizonte distante
LH

a espera de um toque


Brinco de acariciar o fruto proibido de uma vida e imagino poemas e vozes que se repetem. Imagino ínfimos momentos. Imagino insignificâncias e nanalidade de terças-feiras. Imagino a aproximação crescente. Imagino a ilusão que desperta a fome que está prestes a ser saciada. Depois do primeiro toque, liberto luas e acendo dois sois, um em cada mão. Seculares vontades do olhar libertam-se e nada encontro à minha volta além de suas perddidas sobre as minhas. Sim, não estou mais só. Tenho-me a mim e um doce sabor de carinho na boca, entre os dentes imaturos que, outrora, acariciaram ventos e abriram mar.
...

Ainda resta um pouco mais


Se você esqueceu meus nomes
Comece a guardar cada madrugada que eu te dei
Mas resta um pouco mais
Navios colossais que nunca deixaram o cais
Ainda resta um pouco mais

mais um de seus sorrisos


Naufrágio de estrelas no céu
Uma razão cega pra viver
E um arbusto na praia ao léu
Se você esqueceu meus erros
Revele pra mim onde foi que eu desapareci
Mas restam nestes vãos

no parque


As cinzas que irão tornar-se a tela de minha alma
Um pouco maisUm corpo caído nas mãos
Silenciosas de uma mulherE um tumulto no coração
Mas quando os meus olhos
Vão por aí
Levam junto os teus
Cirilo

onde queres...


Onde queres revólver sou coqueiro
E onde queres dinheiro sou paixão
Onde queres descanso sou desejo
E onde sou só desejo queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto eu sou o chão
E onde pisas o chão minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres o ato eu sou espírito
E onde queres ternura eu sou tesão
Caetano

olhos que procuram


Olhos que procuram em silêncio
Ver nas coisas, cores irreais
Seu instito é meu desejo mais puro
Esse seu ar obscuro, seu objeto de prazer
Mas se você quiser , eu bebo seu vinho
Mas se você quiser, sou pedra, flor e espinho
Frejat, Mauríco Barros e Mauro Sta. Cecília

Tenta Esquecer-me


Tenta esquecer-me
Ser lembrado é como evocar-se um fantasma
Deixe-me ser o que sou, o que sempre fui
Um rio que vai fluindo
Em vão, em minhas margens cantarão as horas, me recamarei de estrelas como um manto real
Me bordarei de nuvens e de asas
Às vezes virão em mim as crianças banhar-se
Um espelho não guarda as coisas refletidas
E o meu destino é seguir... é seguir para o marAs imagens perdendo no caminho
Deixa-me fluir... passar... cantar....Toda a tristeza dos rios é não poderem parar!
Mario Quintana

pérola negra


O canto do negro
Veio lá do alto
É belo como a íris dos olhos de Deus...
Eu quero penetrarNo laço afro que é meu, e seu...T
u és o mais belo dos belos
Traz paz e riqueza
Tens o brilho tão forte
Por isso te chamo de pérola negra
Guiguio

ouvi dizer do teu olhar ao ver a flor...


É de mágica que eu drobo a vida em flor

expressão de alegria


Inútil corpo, alma inútil se não transfunde alegria e
esperança de renovono universo fatigado
em que repousa e não ousa.
Drummond

cada riso teu


Eu já nem sei se eu tô misturando
Eu perco o sono
Lembrando cada riso teu
Qualquer bandeira
Fechando e abrindo a geladeira
A noite inteira
Eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano
Eu preciso dizer que eu te amo, tanto
Cazuza

Quem sabe eu ainda sou uma garotinha


Quem sabe eu ainda sou uma garotinha
Esperando o ônibus da escola sozinha
Cansada com minhas meias três-quartos
Rezando baixo pelos cantos
Por ser uma menina má
Quem sabe o príncipe virou um chato
Que vive dando no meu saco
Quem sabe a vida é não sonhar
Cazuza

voz e violão


Canta o teu encanto que é pra te encantar...
Canta para mim, qualquer coisa assim sobre você
LH

não me olhe assim...


Ela flutua como um cisne
Graça na água
Lábios como açúcar
Apenas quando você pensou que você a pegou
Ela desliza atravessando a água
Ela chama por você esta noite
Para compartilhar essa luz de lua
Ela cai no seu rio

E pergunte a ela se ela será sua
Apenas quando você pensar que ela é sua
Ela escorre para outras costas
Para rir como você a desejou
Para derreter nesse lago
Ela será o meu espelho

Reflete quem eu sou
Um perdedor ou um vencedor
...

descansa aqui


Descansa em meu pobre peito,
que jamais enfrenta o mar
Mas que tem abraço estreito, Morena, com jeito de de agradar
Vem ouvir quantas estórias que por seu amor sonhei
Vem saber quantas vitórias, Morena, por mares que só eu sei
Chico

um pouco mais de luz


Um pouco mais de sol...
e eu era brasa
Um pouco mais de azul...
e eu era além
Mário de Sá Carneiro

leve


Não me leve a mal
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço
Ao meu coração, meu coração
Apenas me leve
Chico

eu


eu
quando olho nos olhos sei quando uma pessoa está por dentro
ou está por fora
quem está por fora não segura um olhar
que demora de dentro de meu centro
este poema me olha
Leminski

aquele sorriso


apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme
Leminski

o poeta


parem eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce me nasce
uma rosa na face
parem eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
Leminski

a menina e clarice

olhos de ressaca


Veja só esta manhã tão cinza...
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.
Então me abraça forte, me diz mais uma vez que já estamos distante de tudo
L.U.